Carlos Asp é o artista apresentado nessa semana, dentro do programa de parcerias da Rede Choque, com destaque para nossos parceiros de Florianópolis: o Armazém e Coletivo Elza. A curadora convidada para nos apresentar as artistas do Armazém e Coletivo Elza é Juliana Crispe.
Em 19 de novembro de 2019 Carlos Asp completou 70 anos de vida e 5 décadas de dedicação ao seu processo criativo. Sua obra é uma relação intrínseca entre arte e vida, exclama a temporalidade, fala sobre a existência de si na relação com o outro. Asp é artista andarilho-nômade de personalidade ímpar, artista-fractal, que pensa a estrutura de sua obra reaplicável infinitas vezes, mantendo a força motriz da criação como máquina desejante para suas composições, formando novas estruturas a partir de suas (re)invenções.
A produção do artista atravessa a poesia, o desenho, a palavra, a apropriação e reconfiguração; aponta também para a paisagem, os lugares, as pessoas, as relações, ciência, erudição e desdobra a experiência conjuntamente com a ficção. Asp é paisagem-ambulante, paisagem-metamorfoseante, paisagem-recombinante, como também é sua obra.
Apesar da multiplicidade, o desenho e a poesia visual parecem tomar conta dos modos de produção de Carlos Asp, ativadas desde a década de 1970 quando, em Porto Alegre, fez parte do importante grupo Nervo-Óptico[1].
Palavra-desenho rompe a fronteira do tempo, para atravessar os tempos possíveis, em anacronismo, desvio, vertigem, aproximações dos personagens ao espectador e em teias de afetos. Asp é narrador das suas histórias repetidas vezes, e ao contar faz da diferença e repetição processo gestual. Do artista errante, andarilho, irrompe um processo vigoroso de produção, baseado em materiais descartados de seu cotidiano como embalagens, bulas, caixas de remédios, os papéis reaproveitáveis se tornam suportes de suas obras.
O artista converte-se em exposições ambulantes, pois sempre carrega consigo pastas lotadas de cadernos, papéis com seus desenhos ou por fazer, materiais. Todo e qualquer espaço é lugar para criação e para possível mostra, ação esta que é marca do artista para quem o conhece. Suas obras em deriva também se perdem em muitos lugares, voltam ou não, Asp esquece coisas pelo caminho no mesmo movimento em que coleciona, cata, resgata o que pode ser matéria para seus gestos.
Pensar a obra de Asp é pensar idas e vindas, retornos, atalhos, desapegos, transposições. Folhas, cadernetas, pequenos textos, desenhos, sinalizam a tentativa de retenção do tempo, mesmo que anárquico. O artista faz da sua obra casa deslocada, sempre em trânsito. Reside dentro de um circuito e está em vários lugares, dentro e fora.
Citacionista-Situacionista, evoca diálogos entre artistas, obras, poesia, música, ciência, arte, notícias, história… Retoma a si mesmo, retornando para palavras e obras desenvolvidas há tempos atrás, ou se influência pelo lugar, pessoas, o agora, que se desdobra em muitos tempos também produzindo jogos relacionais, situações como disparos para suas ações não destinadas apenas aos espaços museológicos ou institucionais. Citações implícitas ou explícitas, obras de diferentes períodos e estilos criam um contexto para pensarmos toda sua produção como uma grande imagem, de múltiplas camadas que parece estar em processo e em diálogo com a vida.
A relação com a natureza também é um dos temas em suas obras, Asp fala sobre paisagens, sobre lugares que passa e transita, sobre a Ilha de Santa Catarina que parece ser o lugar de refúgio do artista andarilho-nômade.
Carlos Asp faz de sua obra fractais que operam por recombinações, em estados de impermanências e de incompletudes, pois tanto para o andarilho como para o nômade, nada é preenchido por completo, é sempre o desejo da busca que ocasiona as deambulações, o artista faz da arte-pensamento uma potência em constante movência. No movimento, artista e obra parecem bailar num céu estrelado, sem carta estelar fixa, que se refaz constantemente e cria novos céus, novas constelações.
[1] O grupo Nervo-óptico foi um movimento de artistas vanguardistas do Rio Grande do Sul, com atuação entre 1976 e 1978. Formado pelos artistas Carlos Asp, Carlos Pasquetti, Clóvis Dariano, Jesus Escobar, Mara Álvares, Telmo Lanes, Romanita Disconzi e Vera Chaves Barcellos, o grupo redigiu e assinou um manifesto, crítico à ideologia de mercado como condutora de políticas culturais. Em seus encontros discutiam o contexto cultural e político do Rio Grande do Sul e produziam obras em linguagens múltiplas, como objetos, obras gráficas, performances, livros de artistas, instalações, projeções e ações e debates como jogos relacionais de suas obras, com destaque para a linguagem fotográfica como registro de suas ações.

Exposição Des(e)poemas de Carlos Asp, novembro de 2019. Curadoria Francine Goudel e Juliana Crispe. Espaço Culural Armazém – Coletivo Elza – 14ª Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba. Fotos: Juliana Crispe.

Carlos Asp Há, da Série in Útil Paisagem, sem data Lápis dermatográfico sobre papel Tamanhos Variados

Paisagem ruidosa by bus, da Série in Útil Paisagem, 2017 Lápis dermatográfico sobre papel Tamanhos Variados

Árvores, da série in ÚTIL PAISAGEM – Viamão/RS – 2017 Lápis dermatográfico sobre papel Tamanhos Variados

Chove, Flor de Cedro, 2011 Jumping, 2009 Ventos, pedras…, 2009 Lápis dermatográfico sobre papel Tamanhos Variados

Da série Campos Relacionais, Pierrenoire conté piece, 2010 Lápis dermatográfico sobre papel Tamanhos Variados

Série Campos Relacionais, 2017 Lápis dermatográfico sobre papel Tamanhos Variados papel Tamanhos Variados

Carlos Asp Série Campos Relacionais, datas variadas Lápis dermatográfico sobre papel Tamanhos Variados

A Runa é Nóis, Desenho de 2001, impressão de 2017 Impressão a Laser sobre PVC 16x20cm Obra presente no acervo do Projeto Armazém

Série Campos Relacionais, Campos (Guayba), 2008 Serigrafia sobre papel de algodão Prova de Artista 30x42cm Obra presente no acervo do Projeto Armazém

Fina Stampa, desenho de 2011 Versão cartaz de 2017 Impressão a laser sobre papel 30×20 cm Obra presente no acervo do Projeto Armazém
Carlos Asp nasceu em Porto Alegre/RS em 1949. Começou sua trajetória nos anos 70, quando participou do JAC – Jovem Arte Contemporânea, no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo e do Arte Agora I: Brasil 70-75, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro como artista convidado.
Foi aluno, em cursos livres de artistas como Paulo Porcella, Danúbio Gonçalves, Carlos Vergara, Paulo Roberto Leal, Tomoshigue Kusuno, entre outros.
Em Porto Alegre, fez parte do Nervo-Óptico, importante grupo da arte brasileira dos anos 70.
Nos anos 1980 cursou Educação Artística na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), quando passou a morar em Florianópolis, praticando o desenho e ocasionalmente a gravura. Em 1987/1988 recebeu o premio Aquisição do 10º Salão Nacional de Artes Plásticas da Funarte e foi convidado para o Salão Victor Meirelles, para a Bienal do Mercosul e para a Bienal Internacional de Curitiba (exposição em homenagem aos seus 70 anos).
Além de Porto Alegre, residiu no Maranhão e em São Paulo. Vive e trabalha no município de Florianópolis.