Apresentamos aqui a mais recente produção de Daniel Melim, artista representado pela Choque desde 2005 e um reconhecido talento que une linguagens urbanas contemporâneas ao mais sólido rigor estético em suas pinturas.
DISTOR, 2020
Nessa peça, Melim da início a uma nova experiência de coloração que remete aos lambe-lambes e à gráfica popular usadas em propaganda e publicações baratas dos Anos 70 e 80, principalmente. Apesar do artista se valr exclusivamente da técnica do estêncil (máscaras recortadas e pouchoir), as imagens reproduzem as distorções e irregularidades típicas das impressões em off set rudimentar, serigrafia, xerox e letterpress
CRACK IS POP, 2020
Essa tela é ainda mais radical na pesquisa de novas texturas e aplicações do estêncil e avança na pesquisa da gráfica têxtil, como nova referência visual que invade espaços da sua pintura. Alguns elementos típicos da estética de Daniel Melim estão bem presentes, como as grandes manchas que dividem a tela ao meio, em espaços contrastantes. E também, as camadas de “ruídos e sujeiras” que criam uma forte névoa texturizando toda a imagem. E nessa tela ressurge a colagem, elemento permanente na história de Melim – aqui o artista traz uma toalha plástica com gráfica popular, criano um contraste forte gráfico e de materiais.
JUREMA, 2020
Em “Jurema”, Melim radicaliza a experiência com o novo imaginário inspirado na gráfica popular. Nessa tela, o artista faz uma homenagem simbólica a Carlos Zéfiro, codinome de um afamado quadrinista de fanzines pornográficos que fez sucesso entre os Anos 50 e 70. Mas , além da impressão rudimentar, Melim incorpora também outras referências gráficas, como o estampado tecido de chita, causando aqui uma instigante tensão estética. Esses novos trabalhos também têm sintonia fina com as pesquisas do artista pop brasileiro Rubens Gershman dos Anos 60/70.
BLOCO 8, 2019
Essa é uma peça muito especial, não só pelas medidas diferentes mas pela dinâmica cinematográfica que o Melim experimenta nessa tela chamada “Bloco 8”. Aqui, o artista explora uma sequência de imagens que parecem frames de um filme ou uma página de fummeti. Ainda não é possível dizer, mas parece que essa tela indica o início de um novo modo de formatar suas pinturas, que vinha sendo mais vertical nos últimos anos.
OS MESMOS RASGOS, 2020
Essa é uma pintura bem radical, bem característica do momento experimental que o artista está vivendo. Esse é um período de mudança da fase, na qual Melim está explorando caminhos que estavam latentes e carentes de experimentação. No entanto, o laboratório não é de forma alguma irregular ou sem direção. Ao contrário, o artista tem empurrado os limites da sua estética, criando tensões que não existiam em fases anteriores, mas vem conseguindo manter firme a identidade da sua obra. Cada ultrapassagem de limite, na verdade, reforça e qualifica o que reconhecemos, como o seu estilo.
MESMAS CHAPAS, 2019
Nessa tela, Melim “desbota” as cores e focaliza firmemente as atenções na pintura das texturas e ruídos visuais que criam uma pátina marcante sobre toda a superfície da pintura. Melim mantém, também, uma composição já clássica sua – que eu chamo de recortes “quadro a quadro” – uma espécie de fatiamento que encadeia elementos gráficos distintos (letreiros interrompidos, reticulados que simulam um desfoque de imagem muito ampliada etc) e vai criando dissonâncias e ritmos já bem característicos seus.
DISFOCU, 2020
Nessa tela, o que chama atenção, além da força do contraste de cores e da composição rígida, é o elemento figurativo feminino, no qual o estêncil dá lugar ao traço manual de pincelada bem marcada. Essa figura feminina mais sensualizada reflete a extensa pesquisa que o artista vem realizando sobre publicações populares e independentes das décadas de 70 que eram produzias com recursos gráficos precários, porém criativos, como as revistas pornográficas de Carlos Zéfiro, impressas em serigrafia.
STREET ART COOKBOOK, 2020
Esse é uma pintura na qual, Melim explora o humor típico da stencil art, o que revela com sabor a vivência do artista com grandes nomes da sua geração, principalmente em Londres, local onde Melim participou de vários projetos, inclusive o célebre Cans Festival, organizado pelo artista Banksy e no qual, Melim expõe sua instalação lado a lado com o próprio. Voltando à tela, Street Art Cook Book é uma ode à técnica de graffiti que inspira Daniel Melim desde o seu início de carreira e, ao mesmo tempo, mostra um nível de elaboração plástica que transcende a estética do graffiti ainda bem marcada em seus pares britânicos, mas que na complexa pintura de Daniel Melim é apenas uma das inúmeras referências que se entrelaçam e se comunicam.
CHINA TOWN, 2019
Essa é uma tela com as características que melhor definem a pintura de Daniel Melim, ou a estética pelo qual o artista é mais conhecido: que é a gráfica impactante e as harmonias surpreendentes de cores por vezes dissonantes. Essa tela em específico tem uma luminosidade estridente sob a qual se “esconde” um universo intenso de texturas, massas espessas de tinta, pinceladas grossas que criam volumes e movimento na superfície da tela.